segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Onde você mora tem o quê?

Com essa chuvarada que assola 1/3 do Brasil, fico me perguntando: o que faz as pessoas continuarem morando em um mesmo lugar - além de segurança, preguiça, apego etc. -, o que as faz pensar que ali vale a pena viver apesar de tudo?
Sempre que digo que vou me mandar da minha cidade, pululam defensores da metrópole. O que vou fazer em outro lugar, se aqui há de tudo? E eu me ponho a pensar que dificilmente vou encontrar uma pizza como a daqui, um sanduíche de mortadela tão generoso, lojas de tudo o que pode se pode imaginar. De outro lado, tudo é muito over - muita poluição, muito trânsito, muita muvuca. Eu, que ainda por cima moro no centro, me sinto no vórtice do furacão. Muitas vezes adoro, mas algumas vezes odeio (e Baioque do Chico Buarque seria uma trilha sonora perfeita para essa relação com la ville).
Daí fico curiosa em saber: o que há de bom e de ruim no lugar onde moram meus amigos, mesmo os mais distantes? E estou falando das coisas pitorescas, das minudências, do nada óbvio; o que atrai e o que irrita, visto com lentes de aumento do morador atento.
Aguardo os testemunhos!

16 comentários:

  1. Solange, adorei a ideia, mas aqui - ou melhor, agora - tudo que eu teria a dizer não iria caber! Logo faço a minha descrição histórica ou história descritiva do meu "impasse" (lindo nome francês para rua sem saída).
    Bj!
    Cely

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Adorei o tema, Sô! Bão, aí vai meu depoimento. Eu moro desde sempre na zona oeste de Sampa, com um intervalo de três anos em que morei em Paraty, onde, como você sabe, pretendo voltar (em breve!). Nasci em Pinheiros, em casa alugada, na rua Gilberto Sabino, quando não havia prédios, só casinhas com quintal e laranjeiras, sabiás e árvores de uma fruta que conheci lá e sua lembrança me enche a boca d'água: uvaia, que nada tem a ver com uva, frutinha amarela e azedinha, com um cheiro de pôr doidos os passarinhos. Acho que vem daí meu amor por cantinhos com terra, verde, sons de pássaros.

    Quando tinha 4 anos nos mudamos para o Jardim Bonfiglioli, numa rua sem saída, na época um brejão, onde ouvíamos coachar de sapos e brincávamos de guerrinha de mamona, rolimã, "elefante colorido", amarelinha, subíamos em árvore...

    Hoje os terrenos baldios cenário de tantas brincadeiras foram tomados por casas de dois andares que escondem boa parte da visão que tinha da minha janela. Mas ganhamos uma pracinha onde a criançada brinca como há 30 anos.

    O meu bairro tem muitos problemas. Há ruas não asfaltadas que pessoas usam como depósito de tudo: lixo, animais mortos, móveis descartados entre outras cositas. A prefeitura retirou o caminhão da coleta seletiva e o lixo que separamos há meses teve de ir pro lixo comum, já que os catadores da região ainda não se organizaram em cooperativa e só querem latinhas de alumínio. Os ônibus são lotadíssimos em dia de semana e uma miragem nos sábados e domingos. O metrô é uma promessa em que ainda custo acreditar. Mas acho que meu espírito caipira não se acostumaria a dormir em meio a barulhos da metrópole.

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  4. Ah! Exclui o primeiro comentário por questões de revisão. rsrsrs Essa nossa profissão!!!

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  5. Moro numa pracinha (também), onde há muitos gatos bacanas e cachorros legais, velhinhos pela manhã, caminhadas no fim da tarde, criançada salpicando o dia inteiro; as casas têm gente careta e gente maluca conivendo até que bem nestes últimos anos, fraternamnte. O que é importantíssimo, porque, se dependesse da prefeitura... o mato anda alto... nossos chamados não são respondidos... há pragas empesteando todas as casas... Mas aí, pra abrir mão da pracinha por conta desses problemas não pouco graves, eu tinha era que desistir desta prefeitura, sair de São Paulo mesmo, essa terrinha que vai sendo fascistamente abandonada.

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  6. Ok, ok... Pode pedir um levantamento climático e escolher um lugar no mapa ! Providenciarei a instalação de uma galeria comercial com franquia da Castelões (pizza), Bar do Mané (sanduba de mortadela)e um outlet na versão itinerante com todas as suas grifes prediletas e até 85% de desconto !

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  7. Sugestões para uma cidade melhor;

    Chapeiro que não deixe o pão com gosto de dobradiça engraxada e não me atenda depois dos 35 "clientes mais chegados" que chegaram muito tempo depois e sabem tudo de futebol.

    Crianças que fazem malabares nos sinais com novos números no estilo Cirque de Soleil com luzes, fumaça colorida, colans impecáveis e cabelos penteados com glitter gel.

    Pistas exclusivas (e subterrâneas !) para motoboys, caminhões, taxistas e carros velhos, sem ventilação, é claro !

    Cobertura retrátil inteligente para toda a região metropolitana, choveu ? é só fechar a bagaça ! uma espécie de Zetaflex tamanho gigante.

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  8. Bom, aqui onde moro é calmo e tem o privilégio de ser bastante arborizado, há várias praças para passear com os bichanos. Mas, como a gente não mora só na nossa rua... confesso que também estou bem, bem cansada da neurótica e poluída metrópole.
    Acho que deixar a zona de conforto pode ser muito interessante.

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  9. Moro na perifa de Sampa, zona oeste, do ladim da Via Anhanguera. O bom é que minha casa dá fundos pra uma padoca, e o cheiro das fornadas me acorda e me inspira toda manhã.
    Mas, mineiro que sou, sonho viver na beira do mar -- de preferência no litoral cearense. Pra comer pastel de arraia e, quem sabe, perder a barriga pra pegar onda decentemente.
    Bjão!

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  10. É muito bacana olhar a(s) cidade(s) pelos olhos alheios. Principalmente quando a cidade é a minha também! Quantos recônditos, esconderijos - passarinhos!
    Sabem que a mim me restam as rolinhas volta e meia espantadas por pombos gigantes (o pombo paulista de que falam o Diaférias e uma propaganda mais ou menos antiga da Eletropaulo) na minha janela... Se quase não há árvores, menos ainda as frutíferas, ao menos ainda há um cantar de pássaros no centro!

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  11. Marcelino Pão e Vinho, também sonho com uma prainha dessas. Vento no rosto, água no corpo (que não sejam oriundos de um pé-d'água, per favore!)...
    Nosso dia há de chegar! Com muitos sorvetes de padocas de bairro. Beijocas!

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  12. Enquanto o projeto paisagístico-urbanístico do Renato não se concretiza (adoro especialmente o Cirque de Soleil farolesco!), proponho às Lus (Luciana e Luciane) que criemos uma sociedade alternativa. Vamos fugir deste lugar? Quem vem, quem vem? Ebaaa!

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  13. Solange,
    Por enquanto vou ficando por aqui, na Paulista, que é a minha praia. Mas às vezes dou as minhas escapadas para as montanhas ou litoral.
    São Paulo parece a ONU, pois vivem vivem aqui pessoas de mais de 135 nacionalidades. Uns melhores que outros. bjs, Sonia (memoria-historia.com.br)

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  14. Onde eu moro? Em um lugar onde não tem nada. Foi assim a definição da minha tia que veio me visitar, em relação a minha cidadezinha no interior de Goiás...e eu fiquei pensando como uma típica paulistana, realmente não tem nada. Não tem trânsito, poluição, arrastão, sequestro relâmpago, assalto etc...Aqui a gente acorda com os passarinhos cantando, sai de casa cinco minutos antes de entrar no trabalho, e como o povo goiano é afável, sempre disposto a te dar uma carona, te oferecer um jantar, um ombro. Então, prefiro que aqui continue não tendo nada, como disse minha tia. Dani - Joviânia/GO

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  15. Dani, tem algum lugar pra mim aí em Joviânia? : )
    Quanto ao que afirma a Sônia, essa característica "nações unidas" de São Paulo é realmente única - e talvez por isso a cidade seja um enorme centro gastronômico e cultural. Mas nada como ter distanciamento - mesmo eventualmente - para curtir qualquer lugar, grande ou pequeno.

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  16. ruas de paralelepipedos, crianças brincando, bicicleta sem pressa, duas escolas na rua em frente a casa, visinhos dando bom dia, andar tranquilamente com meus cachorros, ir a pé até uma praça e tomar café na padaria, frutas e verduras frescas perto a qualquer dia, poucos carros, sem prédios só casas, ouvir passaros pela manhã... visinhos mal humorados, obras do metrô que nunca terminam, mudança na rota de ônibus... mesmo assim quero sair para algo que seja mais respeitoso à todos e igualitário (ou próximo disso), pensar mais no coletivo que no individual.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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