domingo, 7 de fevereiro de 2010

Muito a propósito

Na última quinta, em meio às tentativas muvucadas (e frustradas) de fechar um material, ganhei um presente.
Meu amigo Marcelo me deu, assim sem mais (o que caracteriza os melhores regalos, como as alpargatas belíssimas que recebi de minha amiga Lu na outra semana), um livro sobre a artista plástica chinesa Pan Yuliang, A artista de Xangai (Editora Record).
A história, romanceada pela norte-americana Jennifer Cody Epstein, trata da trajetória de uma mulher chinesa, desde o momento em que é vendida pelo tio para um bordel até sua ascensão e libertação como artista plástica pós-impressionista.
Não fosse ainda por cima um enredo bem tramado, a história já teria vindo muito a propósito, em um momento em que ainda ouço alguns homens querendo justificar seu comportamento pelas teorias do século XIX. De que são como são porque "a natureza os fez assim"; eles "caçam" enquanto nós, mulheres pré-históricas, "cuidamos da casa e das crias".
Não parece estranho, se resolvermos entrar, mesmo que por um momento, nesse barco furado teórico, que somente as mulheres tenham buscado a tal evolução? Afinal, um dia elas se tocaram de que não queriam só cuidar da casa e das crias. E a partir daí muitas têm mudado seu destino.
Para ser completamente justa, é claro que os homens (e as mulheres também, por que não?) de fato evoluídos não precisam dessa justificativa fisiológica. Isso é coisa de quem não banca suas escolhas e morre de medo de ficar sozinho consigo mesmo. Certamente, um cara assim não teria me dado um livro como esse...

9 comentários:

  1. Solange, boa dica de leitura e texto seu delicioso. Hoje assisti a uma coisa chamado "Glen ou Glenda", de 1953, que mostra um outro lado sofrido do passado: o drama de homens que, em meados do século XX, queriam travestir-se de mulher; foram bem coitados, também...

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  2. Errei a concordância "coisa chamado" - deve ter sido influência do assunto...

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  3. Cely querida,

    vou atrás da sua dica!
    Esse tal erro de concordância, acho que é um acerto de confluência. : )
    Só pra você ter uma ideia de como o assunto da vez sempre influencia: estava com o livro novo debaixo do braço quando resolvi ir à Liberdade xeretar umas lojas. Não é que tinha me esquecido do tal Ano Novo chinês? Dragões e tigres pra lá e pra cá, enchendo a rua, ao som da Gaviões da Fiel. E eu completamente mergulhada na temática oriental! Total concordância - achei o máximo!

    beijos, beijos

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  4. Também fomos surpreendidos ontem com o ano novo chinês. Saímos do metrô para almoçar em uma chinês, ali na rua da Glória, quando ouvimos a música e um tigre dançando no palco, os olhos da Maria Carolina brilharam...

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  5. Maria Carolina linda! Mocinha já?
    beijo pra ela e para o Candy!

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  6. Sô, tive o "privilégio" de te encontrar no momento exaurida-pós-festa-ano-novo-chinês(rsrsrsrsrs). Bom, tenho muito a dizer sobre o assunto "homem pré-histórico". Tive muito mais ganhos em gritar minha liberdade do que ficar escondida num casamento medíocre e sem sentido. Para completar vejo "A Troca" e me coloco no lugar daquela mãe sofredora que busca o filho e é encarcerada por "não saber o que diz", apenas por ser MULHER. Triste, não? Beijo.

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  7. Eh, eh!
    Aqui fala o cara que deu o livro.
    Só tenho dois comentários pontuais a fazer:
    1. Glen ou Glenda é um clássico do cinema trash, assinado pelo pior cineasta de todos os tempos, Ed Wood (que virou personagem de filme do Tim Burton). Imperdível!
    2. Pode me caçar quando quiser, Sô!
    Beijão

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  8. Se te pareço noturna e imperfeita
    Olha-me de novo. Porque esta noite
    Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
    E era como se a água
    Desejasse


    Escapar de sua casa que é o rio
    E deslizando apenas, nem tocar a margem.


    Te olhei. E há tanto tempo
    Entendo que sou terra. Há tanto tempo
    Espero
    Que o teu corpo de água mais fraterno
    Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta


    Olha-me de novo. Com menos altivez.
    E mais atento.



    Hilda Hilst


    Um dos poemas dos Dez chamamentos ao amigo, linda expressão poética do que, acho, toda mulher busca: o olhar verdadeiramente correspondido, o diálogo de corpos e almas, entre iguais.

    Ah, também quero ler o livro! Valeu a dica!!
    beijoca!

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  9. Lindo poema, Tam! Adorei!
    Marcelino, caçar mais do que eu faço todo dia? Minha vida é caçar os editores? hahahaha!
    beijos, beijos

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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