sábado, 28 de julho de 2012

Gourmandise XXII - Boeuf Bourguignon

Como a maioria das pessoas que assistiram a Julie e Julia e têm alguma pretensão culinária, eu também quis fazer o Boeuf Bourguignon, que no filme acaba queimado no forno por distração da protagonista. Diante da ênfase dada ao dito, minhas papilas se assanharam e pensei: este é O PRATO.
Mas prepará-lo foi uma saga: embora tenha encontrado a receita no site do Mixirica (a Tatu traduziu a receita do livro de Julia Child, Mastering the Art of the French Cooking, e acrescentou algumas dicas) logo depois de ter assistido ao filme, encasquetei que precisava de uma panela de cerâmica ou de ferro para fazer o prato, pois ela deve ir ao lume do fogão e ao forno. Não me animei a pagar 400 reais ou mais por uma daquelas lindas panelas esmaltadas francesas e pesquisei outras panelas que resistissem a mais de 200 graus de calor, mas não achei nada efetivo. Além disso,  o preparo do prato demanda tempo – são cerca de 3 horas entre o mise-en-place e o “mise-sur-le-table”. Como estava envolvida em outras coisas – curso de cozinha, de pães, saída do trabalho etc. –, o projeto Boeuf Bourguignon ficou em segundo plano.
Foi então que, nas férias de julho, minha sogra me disse que suas poderosas panelas de inox com fundo triplo também iam ao forno. Corri para a rua Paula Souza atrás delas. E além da minha felicidade em cozinhar em panelas novinhas, deu tudo certo – minhas luvas de silicone nem derreteram, apesar de o metal esquentar muito.
Agora sobre o prato. É realmente delicioso. Dá tanto trabalho quanto (ou mais) uma feijoada caprichada. E aqui vai minha heresia: nossa carne de panela, se acrescida de um vinhozinho e legumes glaceados, ficaria parelha. Pronto, falei. É claro que o cozimento em vinho e caldo de carne, o entra e sai do forno, o toucinho separado do bacon (cada um entra numa parte da receita), as ervas cozidas com a carne, as minicebolas e os cogumelos glaceados, o caldo tirado do próprio cozido que é encorpado e derramado depois sobre o prato dão outros status e sabor ao “feito”. Mas essa é a graça da gastronomia: cada prato inspira dezenas de outros.
Para acompanhar, fiz dois tipos de arroz: o branco tradicional e um com abobrinha e açafrão. Em termos de sabor, é melhor ficar com o branco, pois o prato é bem temperado. Também deve cair bem com batatas (sem gratinar, para não ficar pesado) ou massas simples, mas achei que ficaria over para uma refeição noturna. De entrada, fiz bruschettas ensinadas pela sogra, inspirada na receita do Panelinha: tomate, pepino japonês, manjericão, sal, pimenta do reino e azeite sobre uma camada de torradinhas picadas (no lugar dos croûtons da receita do site). A sobremesa foi a já aprovada mousse de chocolate também do Panelinha, acompanhada de morangos. E voilà: tivemos mais um jantar bonito, gostoso e feliz.



Arranjos para o jantar: nos chawans, a bruschetta com torradinhas e na jarra o molho para servir sobre o cozido. Foto artística de Guga para o Boeuf, com carioquinhas e arroz ao fundo

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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