domingo, 13 de outubro de 2013

Hora da faxina ou Prólogo/oração ao novo

Nesta época, costumo ir atrás da agenda do próximo ano. Procuro escolher uma que seja bonita mas minimamente discreta, prática e portátil. Com a agenda nova e em branco nas mãos, fico toda animada em fazer projetos, avançar um pouco mais na direção dos sonhos, pensar em algo novo a aprender/conhecer. Mas tenho pudores em começar a usá-la logo, já que o ano ainda não acabou e também há um balanço a ser feito, normalmente em dezembro.
Este ano resolvi fazer diferente. Comprei uma agenda maior, que lembra um livro antigo. Ela se inicia em agosto deste ano, e segue até dezembro do ano que quem. Resolvi já começar a usá-la, encostar a atual, assumir já o novo começo, o que me provoca desde agora um vital frio na barriga. Significa que já comecei meu balanço anual, também de outro jeito - um balanço não de realizações, mas das transformações. Sem arrependimentos, sem culpar o outro nem a mim. Buscando internalizar que a permanência é uma ilusão, como diz o artigo de Eugênio Mussak na Vida Simples. Assumindo o fim das etapas, sem lamentar toda energia gasta com elas - pois, afinal de contas, tudo foi porque valiam a pena. Já não valem mais, não na forma presente. Quem sabe o que será o amanhã? Mas não se pode deixar de caminhar por não saber o que há atrás da curva.
Faria tudo de novo? Nem tudo, mas quase, com o grande aprendizado de não me desgarrar de mim mesma mesmo fazendo o meu melhor pelo outro. E não deixar de fazer o meu melhor, talvez agora com o desconfiômetro ligado para saber a hora de parar. Não mais pelo temor de infância de ser inconveniente (apesar de toda minha extravagância aparente), mas para não usar desnecessariamente minha energia vital.
Certezas? De que alimentar expectativas acerca dos outros (de que nos deem o que não têm) é outra ilusão, mas que posso contar com os verdadeiros amigos e sobretudo comigo mesma. De que tudo será melhor do que tem sido, com as lições sendo absorvidas, trazendo mais cuidado e consciência (= iluminação). De quebra, e de preferência, em outro lugar, que me tire da zona de conforto que já me incomoda há tempos.
Assim, que venha o novo.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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