terça-feira, 2 de setembro de 2014

O que eu aprendo com os gatos





Eles são fofos, dóceis (especialmente o Chico) e às vezes ranzinzas (especialmente o Zen, que de zen, logo se vê, pouco tem). Vivem grudados um no outro e me seguem pela casa. Adoram colo, meu ou das visitas. Já sacaram que quando fecho a porta do escritório é hora de eles tirarem seu cochilo ou brincarem no tubo que ganharam da Lu. Miam (especialmente o Zen, baixinho reivindicador) na porta do meu quarto às 6h. Quando abro a porta, dou com os dois 2 de paus à espera. Já me disseram que isso passa, é que são filhotes etc. Mas eu desconfio que não, que eles serão sempre assim, gatos-galos, gatos-cães, miadores, seguidores, saltadores.
Pensei em devolvê-los à cuidadora mais de uma vez, e não só quando achei que ia morrer de alergia. Pensei que talvez eu não sirva pra ter bichos, ou mesmo outros seres dentro de casa. Pensei em autossabotagem, adotar dois gatos quando estava passando por uma situação difícil, e ainda mais tendo rinite.
Depois fui perguntando a mim mesma por que teria feito isso. Talvez nunca saiba exatamente por quê, mas me ocorreu que há pessoas que são como cachorros e pessoas que são como gatos. Eu pertenço ao primeiro grupo, porque tenho necessidade de agradar, e preciso aprender a ser mais gato (como muitas pessoas próximas), mais senhora da minha vontade. A fazer as coisas na hora que quero e a dar as costas ao que não quero.
Também tenho aprendido no convívio que eles exigem de mim uma rotina, e eu me torno mais organizada, inclusive com minhas coisas. Aprendo a dividir melhor o tempo, a não deixar coisas pelo caminho. Vejo que dos gatos, como das pessoas-gatos (ou talvez de todas as pessoas), o que temos a esperar é apenas surpresa. Não é possível cristalizar comportamentos, apesar da rotina - se um dia comento com alguém como eles são comportados, no outro eles roubam minhas meias do cesto de roupas e jogam na vasilha de água, ou jogam meus CDs no chão (já não sei quantos estão riscados, perdidos para sempre). Não é possível estabelecer muita coisa - como a própria vida, que me mostra o tempo todo que nada é estável, que tudo muda sempre.
Mas quando vou assistir a algum filme, e eles fazem de tudo para se ajeitarem, os dois, no meu colo, e dormem, cheios de confiança (apesar das broncas que levam quando aprontam), vejo que não há relação possível sem conflito e troca.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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