terça-feira, 31 de março de 2015

Vida real III

As alergias já dão as caras, mal tem início o outono. Narinas secas, tosse, muita coceira nos olhos, Polaramine, colírio, água, sono. Coceira nas pernas - será que agora vou pegar dengue?
Tenho a impressão de estar falando baleês. Alguns autores que não respondem, se fingem de mortos. Uma autora com dengue, de fato. Eu no meio do vórtice de leituras críticas, pautas, preparações. Cronograma que já foi pro saco. Mas há autores que cumprem seus prazos - nem tudo está perdido.
Faxina, dieta do bom humor, limpar banheiro de gatos. Preguiça de cozinhar. Muito, muito sono após o antialérgico. Só 400g eliminados depois de uma semana sem comer doces. Poderia ser melhor, mas poderia ser pior. E o purê de batata-doce com canela faz a balança pender para o melhor.
Faço a mim mesma promessas que não consigo cumprir e compro livros. Também faço uma lista de todos os livros que devo ler antes de comprar qualquer outro - se a seguir de fato, a leitura demorará meses, o que significa cumprir minha promessa de não comprar um livro tão cedo.
Assisto a um documentário perturbador, Finding Vivian Maier (de novo as sombras da alma), termino de ler Vargas Llosa. Isso me dá a sensação de dias produtivos, mesmo quando autores não respondem e meu trabalho fica parado.
Com a caneca de leite quente e cacau nas mãos, penso que, mesmo não sendo tão fácil, este ano já é, sem dúvida, melhor que o que passou. Penso também que consegui aumentar uma volta na caminhada pelo parque. E assim vou dormir mais feliz.

segunda-feira, 30 de março de 2015

"O Grande Hotel Budapeste" e Ralph Fiennes

Calhou de este ano o Oscar ter várias indicações interessantes de filmes. Um deles é O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, o diretor de Expresso para Darjeeling. Além do elenco estelar (Ralph Fiennes, Jude Law, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Tilda Swinton, Léa Seydoux, Edward Norton, Bill Murray, Adrien Brody, Owen Wilson, Jason Schwartzman - esses quatro últimos atuaram também em Expresso), o filme é bem-humorado, com uma estética colorida e marcante, tomadas ágeis e ótima direção. De quebra, traz Ralph Fiennes em um papel quase cômico, em contraste com suas personagens dramáticas de filmes anteriores (A lista de Schindler, O paciente inglês, O jardineiro fiel, para só citar meus favoritos). Ele é o concierge de um hotel de luxo, exemplar de uma época dourada em extinção, quando eficiência e gentileza eram fundamentais.
Depois de assistir ao filme de Anderson, quis rever O paciente inglês, de Anthony Minghella. Que filme realmente lindo! Não só pela paisagem do deserto, em vistas aéreas esplêndidas, como pela atuação de Fiennes, então jovem e belo, vivendo mais uma personagem atormentada. E então percebi por que sou fã de Ralph Fiennes: pela sua capacidade inata de transmitir ao público as sombras que perpassam a alma (talvez o melhor exemplo disso seja o oficial nazista do filme de Spielberg). Mas, diferentemente de um Ricardo Darín, outro dos meus atores preferidos, Fiennes parece mesmo saído de outra época, quiçá de um drama shakespeariano. Para nossa sorte, porém, ele paira entre nós.

domingo, 15 de março de 2015

Um arco-íris para Cely

Ainda tenho um longo aprendizado sobre a arte do desprendimento. Especialmente no que se refere à partida de pessoas queridas.
Minha querida Cely nos deixou ontem. Nos últimos anos, a saúde mais frágil foi retirando-a do nosso convívio. Nas últimas semanas, quando chegou a notícia de mais uma internação, lá no fundo algo me disse que era a última. E mesmo me preparando para uma possível despedida, meu coração doeu ao saber da notícia.
Encontrei esta foto no Facebook, da página da Iza, que conhecia muito bem a Cely, de muitos anos de Anglo. E me apropriei da imagem. Cely entre livros, sorridente. Acho um flagrante extremamente feliz, que traduz muito dessa pessoa generosa, bem-humorada, brava quando convinha, maternal sempre. Boa parte do que sei, devo a ela. E mesmo não tendo convivido com ela de forma mais íntima, era uma pessoa a quem eu sempre quis um bem imenso, e cuja presença, mesmo esporádica, sempre me alegrava.
Falei sobre ela com amigos um dia antes de sabermos da internação. E hoje, embora lamente sua falta e o não termos conseguido marcar uma última visita (ela havia ficado de me avisar quando estivesse com mais tempo), quero ficar com essa imagem. E com a do arco-íris esplendoroso que me surpreendeu na volta da despedida, me lembrando da alegria de ter convivido com Cely. Ou como um sinal de que os anjos estão em festa com a paz que ela conquistou.

sábado, 14 de março de 2015

Um gostinho de Marrocos: tajine (ou tagine)

Um dos lugares dos sonhos para mim é o Marrocos. Andei lendo sobre Marrakech no guia do Marrocos, e fiquei aguada por um tajine (e pelos mercados e feiras, pelo deserto, pelas babuches, por tudo).
Entonces, como a crise anda braba, e o projeto Marrocos talvez ainda demore um pouquinho, resolvi provar o prato aqui mesmo, em minha casa. Achei uma receita da Heloísa Bacellar no site do Basílico.
É um prato trabalhoso, com várias etapas. Mas ficou uma delícia, e foi difícil saber se o melhor era o perfume na cozinha, ou os sabores diversos combinados.

domingo, 8 de março de 2015

Capa do Pitadas


Fiquei num dilema quanto a fazer os rostos. Primeiro, porque podia ficar ruim, e eu estragaria um trabalho que até aqui saiu bacana. Segundo, porque me ocorreu que, se não caracterizasse tanto, a ideia de integração ficaria mais clara - qualquer um pode se ver nessa família, ou em parte dela.
Aí, por ora, ficou assim.

Pitadas - quase lá


sexta-feira, 6 de março de 2015

Colagem redentora


Quando encasqueto com um projeto, fico obstinada para que dê certo.
Outro dia, até postei a imagem do bordado que estava fazendo para a capa do novo blog, o Pitadas de famílias. Nem achei a composição ruim, mas o mau acabamento, com o cola-pano vazando sob o tecido, os fios soltos, que nem o alinhavo estava resolvendo - tudo isso foi me desanimando. Isso porque já tinha tentado criar uma cena familiar com massa de modelar, mas a mistura para chegar aos tons de pele não havia dado certo.
Só então pensei em fazer tudo com colagem, papel de origami, talvez lã (vou fazer testes antes). Lembro que essa solução me salvou também no curso do Odilon Moraes e do Fernando Vilela, no Tomie Ohtake. Em meio a vários jovens ilustradores ótimos, eu era uma das poucas que não sabiam desenhar. Então me vali das colagens, e deu supercerto.
Até colar o mesmo tecido sobre uma folha de canson deu outro tom para a cena. Só não finalizei porque meu guache branco acabou.
Vivendo, observando e aprendendo, sempre.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Pensando alto

Em algum momento eu disse que gostaria de fazer outra graduação? Só se for à distância!
Ficar em uma sala lotada, com 70 pessoas que eram como eu aos 20 e poucos, rumorejando, arrulhando, desafiando o professor... Uma coisa é estar à frente, dando aula, outra, é estar sentada no meio daquela multidão. Realmente, tudo tem a hora certa para acontecer na vida.
Eu me vejo nos alunos da graduação, alguns deslumbrados, outros, mais arrogantes. Mas confesso que saí da aula antes de acabar porque estava atordoada naquela sala com gente sentada no chão, o burburinho incessante.
Fiquei velha.

terça-feira, 3 de março de 2015

Cinema e gastronomia

Nas redes sociais, muita gente já fez sua lista de filmes favoritos ligados à gastronomia. A minha é apenas mais uma, e me vali de outras para pesquisar filmes a que não tinha assistido ainda.
Para quem gosta de cozinhar, principalmente, assistir a filmes sobre o ato de preparar pratos é sempre motivador e faz lembrar por que isso é sempre tão bom - pelos aromas, temperos, pela beleza do resultado final, pela relação que se estabelece com o outro nesse ato de amor, ainda que muitas vezes seja um amor pelo desconhecido.
O fato é que listar esses filmes é uma delícia, e pretendo engordar o grupo sempre que necessário. Para cada um, elejo um prato.

Who is killing the great chefs of Europe, de Ted Kotcheff (1978) - Uma comédia com clima de suspense à la Agatha Christie e participação de Jacqueline Bisset e Philippe Poiret. Ao redor do crítico gastronômico de uma revista, chefs internacionais são assassinados segundo a receita de seus pratos mais famosos. Prato da vez: como tudo é muito pesado (pombos, patos torturados etc.) no filme, fico com os queijos.

A festa de Babette, de Gabriel Axel (1987) - Um filme sobre gastronomia, mas também sobre a beleza da graça. A misteriosa Babette chega à costa dinamarquesa fugindo de uma guerra na França. Em uma triste e escura vila encontra Philippa e Martina, filhas de um pastor austero que continuam vivendo segundo os preceitos de seu pai, à frente de uma pequena comunidade. Acolhida por elas, Babette realiza grata e silenciosamente os serviços domésticos e surpreende aos moradores da vila (não sem recriminações, claro) com um banquete suntuoso. Prato da vez: baba ao rum.

O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, de Peter Greenaway (1989) - O gângster Albert Spica (Michael Gambon) janta todos as noites no Le Hollandais com sua esposa Georgina (a sempre ótima Helen Mirren). Ela começa a flertar com outro frequentador do restaurante, e o que se segue é uma vingança à la Greenaway - cruel, mas com fotografia sempre plástica e impecável. Prato da vez: abacate ao vinagrete e camarões.

Tomates verdes fritos, de Jon Avnet (1991) - Uma celebração à amizade, um filme sobre superação feminina e também um food movie, tudo junto. Mesmo anos após a morte de seu irmão, a rebelde Idgie (Mary Stuart Masterson) vive isolada de todos, até a aproximação de Ruth (Mary-Louise Parker), namorada de seu irmão à época do acidente que o matou. Juntas, abrem um café cujo prato principal são os tomates verdes fritos. O racismo (a história se passa no sul dos Estados Unidos) e a opressão feminina também estão presentes nesse filme delicado, fortalecido pela atuação de quatro ótimas atrizes: Masterson, Parker, Jessica Tandy e Kathy Bates. Prato da vez: tomates verdes fritos.

Delicatessen, de Jean-Pierre Jeunet e Marc Caro (1992) - Humor negro, uma pitada de violência e apocalipse. Na verdade, um filme sobre a falta de comida - talvez algo próximo do que estamos vivendo, com a falta de água no país! A falta de alimentos é tamanha que eles viram, por completa ironia, moeda de troca. O que comer, então? Que tal o seu inquilino? Prato da vez: quibe cru.

Como água para chocolate, de Alfonso Arau (1992) - Na minha opinião, o filme em que a relação entre cozinhar e amar é mais clara - talvez por ser um filme latino-americano. A jovem Tita cresceu em meio a panelas e temperos e tem o dom de transmitir seus sentimentos aos pratos que prepara. Apaixonada por Pedro, tem que aceitar que ele se case com a irmã mais velha, em respeito a uma tradição/maldição familiar. Mas o amor transborda, e daí... Prato da vez: bolo Chabella.

Comer, beber, viver, de Ang Lee (1994) - Um célebre chef chinês aposentado precisa aprender a lidar com suas três filhas após a morte da esposa. Acompanhamos a vida amorosa das três jovens e sua relação às vezes conflituosa com o pai enquanto assistimos maravilhados à mágica que se opera na cozinha do chef Chu - molhos misteriosos, sabedoria culinária e pratos lindos que surgem ao levantar de uma tampa atiçam a fome de qualquer espectador. Prato da vez: dim sum (um bolinho cantonês que lembra guioza).

Chocolat, de Lasse Hallström (2000) - O filme é americano, o diretor é sueco, mas o ambiente é francês. E a protagonista, la belle Binoche, também, na figura de uma chocolatière que aterrissa em uma cidadezinha durante a Quaresma para abrir sua loja de chocolates. Não é um dos meus roteiros favoritos - Juliette Binoche mal fala! -, mas a sedução está no ar (com a ajuda de Johnny Deep) e na loja de bombons exóticos que sacode a rotina dos habitantes da pequena cidade francesa. Prato da vez: trufas de chocolate.

O tempero da vida, de Tassos Boulmetis (2003) - Embora a ideia seja boa, o filme é fraquinho (direção maomeno, talvez?), mas me atraiu pela temática dos temperos. O garoto Fanis vive na loja de temperos do avô, com quem aprende os segredos das especiarias e da vida. Quando os gregos são expulsos da Turquia, em 1964, o garoto precisa se separar do avô, indo morar na Grécia com os pais. Lá ele se torna um especialista em gastronomia. Prato da vez: moussaka ou qualquer um que leve canela, muita canela.

Sideways (Entre umas e outras), de Alexander Payne (2004) - Talvez um dos melhores filmes do Paul Giamatti, que vive o melancólico Miles, um escritor frustrado e apreciador de vinhos que não consegue aceitar o fim de seu casamento. Ele acompanha o amigo Jack (o hilário Thomas Haden Church) em sua despedida de solteiro, uma viagem por vinhedos da Califórnia onde muita coisa pode acontecer. Prato da vez: na verdade, vinho: Pinot Noir.

Um bom ano, de Ridley Scott (2006) - O empresário workaholic inglês Max Skinner (Russell Crowe) herda uma vinícola do tio (Albert Finney), com quem não falava há anos. Ele viaja à Provence para logo se desfazer da propriedade, mas acaba se encantando com o lugar e rememorando as lições que teve com o tio, inclusive a de como produzir e saborear um bom vinho, além, é claro, de encontrar a linda Marion Coutillard por lá. Prato da vez: bouillabaisse.

Ratatouille, de Brad Bird e Jan Pinkava (2007) - A fofurice do ratinho chef aliada à perfeição técnica da animação são a receita do sucesso. Rémy é um ratinho com apurado senso gourmet. Ele vive em uma grande comunidade de ratos em Paris, sonhando em trabalhar em uma cozinha de verdade, até conhecer o assistente de cozinha Linguini. Seguindo a máxima do chef Gusteau, pai biológico de Linguini, Rémy luta para provar que "qualquer um pode cozinhar". Prato da vez: ratatouille.

Sem reservas, de Scott Hicks (2007) - Remake do filme alemão Simplesmente Martha, de 2001 (este eu não vi). A linda Catherina Zeta-Jones vive uma chef durona na cozinha e pouco feliz na vida pessoal. A sobrinha órfã (Abigail Breslin) e um charmoso chef de gastronomia italiana (Aaron Eckhart) vão encher sua vida de novas emoções e sabores. Prato da vez: pizza feita em casa.

Estômago, de Marco Jorge (2008) - Nonato (João Miguel) é um imigrante nordestino que chega a São Paulo em busca de uma vida melhor. Ao trabalhar em um boteco, descobre seu talento para a cozinha com uma maravilhosa coxinha disputada pelos clientes. Ele ascende profissionalmente, mas logo a paixão pela prostituta Íria (Fabiúla Nascimento) vai lhe trazer problemas. Prato da vez: coxinha.

Bottle Shock (O julgamento de Paris), de Randall Miller (2008) - Baseado em fatos reais, o filme conta o início da indústria vinícola no Napa Valley, Califórnia, e como um vinho norte-americano chamou a atenção do mundo pela primeira vez, ao receber uma certificação francesa. Prato da vez: qualquer um que combine com o vinho Chateau Montelena ou um californiano mais modesto.

Julie & Julia, de Nora Ephron (2009) - Um dos meus favoritos sobre o tema - ainda por cima, estrelado pela maravilhosa Meryl Streep como Julia Child. Para fugir ao enfado de sua vida cotidiana, a jovem jornalista Julie (Amy Adams), que trabalha como atendente de telemarketing, cria um blog com o desafio de preparar todos os pratos do livro clássico de Julia Child (uma espécie de Dona Benta mais sofisticada dos Estados Unidos). As duas histórias se cruzam, e é divertidíssimo conhecer o lado competitivo de Child ao vê-la descascar montanhas de cebola para vencer os colegas de Cordon Bleu. Prato da vez: boeuf bourguignon, bien sûr.

Soul Kitchen, de Fatih Akin (2009) - Um jovem grego em Hamburgo resiste ao aburguesamento de seu bairro e tenta conduzir aos trancos e barrancos seu restaurante, até encontrar um chef recém-demitido que transformará sua cozinha. Prato da vez: mousse de chocolate branco (receita da ICKFD).

Les saveurs du palais, de Christian Vincent (2012) - A chef Florence (Catherine Frot) é levada de sua fazenda em Périgord para o Palais de l'Elysée com uma missão secreta: preparar o menu do próprio presidente da República. O que se segue é um desfile de pratos maravilhosos, preparados com maestria e ingredientes "da terra" pela única mulher a cozinhar no palácio, o que angaria o rancor dos demais cozinheiros. Prato da vez: filé em crosta de sal.

Chef, de Jon Favreau (2014) - Jon Favreau dirige e atua neste delicioso filme sobre gastronomia, food truck, família, estrada etc. O chef Carl Casper resolve voltar a ser um chef criativo e, por isso, se desentende com seu patrão. Seguindo o conselho da ex-mulher, compra e reforma um trailer e sai pelas estradas norte-americanas cozinhando o que lhe apetece, em companhia do filho e de um antigo empregado. Prato da vez: sanduíche cubano (receita da Folha).

A 100 passos de um sonho, de Lasse Hallström (2014) - Outro filme do diretor sueco e com a grande Helen Mirren, agora no papel de dona de um restaurante no sul da França. Madame Mallory (Mirren) não vê com bons olhos a chegada de uma família indiana que pretende abrir um restaurante bem em frente ao seu, que já detém uma estrela Michelin. O sonho de Mallory é conseguir outra estrela, e o jovem e talentoso Hassam (Manish Dayal), o gourmet da família indiana, pode atrapalhá-la. Prato da vez: omelete (para avaliar o talento dos chefs, Mallory pede que lhe preparem uma omelete).

P.S.: Já vi em uma lista de food movies menção a O filho da noiva (por conta do tiramisù do restaurante de Darín), mas não o considero um filme sobre gastronomia. Se a questão fosse apenas a ação se passar em um restaurante ou mencionar um prato, nisso deveria ser lembrado, por exemplo, Azul é a cor mais quente, em que a personagem de Adèle Exarchopoulos tem fissura por uma macarronada nada gourmet.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Vida real II

É incrível como Zen é capaz de miar por 2 horas seguidas para me acordar. 
Acabo acordando com o miado monocórdio, chato de doer. 
Nem tomo o suco verde pela manhã. Uma ansiedade misturada com azia, medo de entrar em pânico, tem me tomado na última semana. 
Edito a duras penas um texto truncado. Tiro um cochilo no meio da tarde, talvez o sono da autossabotagem. Respondo a autores, marco na agenda que amanhã será o dia exclusivo de acertos do cronograma. Hoje, só edição. Começo a limitar meu acesso a e-mails e Facebook - reservo determinados momentos para ambos, não mais o tempo todo.
Almoço a comida árabe de ontem. Um buraco no estômago permanece - a ansiedade quase pânico. Não saio para caminhar. Tenho vontade de sumir, esquecer as contas a pagar. Mudar de nome, de profissão, mas continuar sendo eu mesma. Às vezes, quero que o dia tenha 30 horas; hoje, só queria ser rica para não ter que dar muita satisfação.
Respiro fundo para continuar a trabalhar.
Recebo a notícia de que uma amiga querida, ex-chefe, está internada, em coma induzido. Meu coração escurece. 
Indiferente a tudo isso, outro dia termina.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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