domingo, 23 de abril de 2017

Pão delícia, um clássico soteropolitano


Já nas primeiras vezes que vim a Salvador com meu marido, na época namorado, ele me falava do tal pão delícia, uma iguaria que não podia faltar em nenhuma festa soteropolitana. Eu nunca tinha visto nem provado o tal pão, e confesso que, nas primeiras vezes, não vi nenhuma graça - normalmente, comprávamos em padarias, e eu não entendia por que ele era considerado tão gostoso. Achava que tinha gosto de massa crua ou então era muito duro.
Agora entendo que os pãezinhos que comprávamos nas padarias e até um que provamos num restaurante baiano em São Paulo eram muito diferentes do pão delícia tornado célebre por Elíbia Portela, uma culinarista e banqueteira de Salvador. Não faz muito tempo que comi um pão delícia de fato delicioso, num café de shopping, com o creme de queijo tão enfatizado por Guga, e minha opinião começou a mudar. E também acabei encontrando Elíbia no Facebook e comecei a seguir suas publicações.
Outro dia, vi que ela daria um curso só de pão delícia. Entrei em contato, paguei o curso e descobri que o anúncio era antigo, que o próximo seria numa data inviável pra mim. A partir de então, fiquei à espera de que se formasse uma turma em abril. Foi uma epopeia a troca de mensagens com Elíbia - ela não costuma responder aos posts no Facebook, demora um tanto a responder emails. Decidi aderir ao whatsapp só para poder falar com ela. Na última vez que liguei para ela, soube que o celular tinha se espatifado no chão e que ela estava sem acesso ao aplicativo. Ela resolveu anunciar novas turmas no Facebook, e eu de novo entrei em contato de todas as formas imagináveis. Por fim, ela me enviou uma mensagem confirmando minha inscrição numa turma no último sábado.
Éramos seis pessoas em torno de uma bancada de cozinha na casa dela, no bairro da Pituba. Ela não perguntou o nome de ninguém, nem de onde vínhamos, o que queríamos. Foi logo explicando como separar gemas, pedindo ao único rapaz do grupo para pesar farinha, fermento, leite em pó. A apostila do curso era uma folha de papel sulfite com a receita (um pouco incompleta) do pão delícia. Aos poucos, ela foi ficando mais à vontade, dando dicas importantes (cobrir os pães com pano de prato para não murcharem, untar forma com óleo para não queimar os pães etc.), contando causos de sua longa carreira de culinarista. Eu perguntei bastante, pra variar; fiquei ao lado dela na hora de modelar os pães, caprichei no boleamento, anotei muito.
Hoje resolvi fazer os pãezinhos. Na hora de modelar, achei a massa muito grudenta para pesar e executar o passo a passo que Elíbia ensinou, entonces, tirei porções com colher, a olho, e boleei com a mão em concha mesmo. Ficou tudo bem redondinho. Ainda um pouco dourados (pão delícia típico é bem clarinho), os pães, porém, ficaram ótimos. O creme de queijo saiu um pouco mais intenso, porque usei um queijo "bom", mas a família aprovou.

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Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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