quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Padaria de Natal

Desta cozinha saiu bastante coisa para o Natal: pães de avelãs, pães delícia, roscas de frutas e panetones diversos - frutas, chocolate e cranberries, chocolate, caramelo. Aliás, que delícia são esses callets de caramelo Callebaut! Agora só quero panetones com gotas de caramelo. 

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Da retina para o papel

No ano passado, rolou uma oficina de bordado aqui em casa, com Luli e Tina. Como Luli ainda não chegou, Tina pediu para vir "costurar" comigo. Expliquei a ela que não sou boa com costura, mas com bordado, e ofereci uma alternativa de criação artística, com colagem, usando tecido e papel. Mostrei alguns exemplos do que já fiz, falamos de seu interesse em ser estilista e botamos a mão na massa.
Ela logo decidiu o que ia fazer e me perguntou se eu não ia começar o meu trabalho também. Pensei, pensei. Diante de nós, as árvores, folhas, o gato descansando. E a paisagem de todo dia colada na retina colou-se no papel.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Mimos dezembrinos

Ainda não é Natal, mas já recebi alguns regalos lindos. Minha cunhada trouxe os temperos que amo e também um aceto balsâmico à base de tâmaras, uma coisa de outro mundo, delicado e potente, uma delícia. Ganhei uma faca de cerâmica no tradicional amigo-secreto do pilates, já em uso. Por fim, recebi um pote com biscoitos caseiros, receita dinamarquesa da minha querida Suely - a gentileza na forma de sabor e perfume de especiarias. 
Para mim, esse deveria ser o espírito de Natal: pequenas delicadezas cotidianas, e não presentes caros (estou em choque até agora com o preço dos brinquedos, inda mais de bonecas plásticas que vão ajudar a poluir mais o planeta). Deveria ser cultivado ao longo do ano, ao longo da vida, não só no âmbito dos iguais, mas por onde passamos. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Paris 6: nhoque maravilha e crème brûlée frustrante

Fazia tempo que não ia a um restaurante, no sentido estrito. Já há algum tempo nos limitamos à comida que eu faço, a alguns fast foods, ao mexicano preferido e à pizza bem eventuais. A última experiência de um almoço ou jantar de fato deve ter sido em um restaurante em Imbassaí, há vários meses. Eu adoro cozinhar, ir beliscar alguma coisa de vez em quando, comer pizza, acho que tudo tem seu lugar. Por isso é que às vezes bate saudades também de ter alguém cozinhando de fato para mim, uma comida mais caprichada, um molho com mais especiarias etc. etc. Ainda por cima, sem que eu precise me preocupar com a louça em retribuição à comida oferecida (porque, afinal, a retribuição, nesses casos, é monetária). 
Bueno, ontem resolvi almoçar no Paris 6, no Iguatemi. Restaurante bonito, com quadros de artistas baianos espalhados pelas paredes. Não tem muita cara de bistrô, mas também não se parece com um restaurante francês refinado - está mais para America, na verdade. Um ruído ensurdecedor de conversa me recebeu. Parecia que estava havendo diversas confraternizações pelo salão, frequentado no momento por um público predominantemente formado por pessoas acima de 65 anos. 
Já havia visto o cardápio do restaurante, e me lembrei de um nhoque de brie, que me pareceu bem interessante. A opção com molho de tomate e acompanhada de galeto se chama Julia Lemmertz, porque o dono do restaurante prima por criar pratos para artistas-amigos (acho meio brega, mas enfim). 
Pedi o nhoque de brie com galeto à la Julia Lemmertz, e logo percebi que ia demorar, a julgar pelas inúmeras mesas servidas apenas com copos e taças (sendo muito otimista, podia ser que todo mundo já tivesse terminado de almoçar). O barulho a essas alturas já me incomodava muito e coloquei os fones do celular para ouvir uma aula do Carlos Kristensen. No entanto, em uns 15 minutos, meu prato chegou. Com muito molho, o que dava a impressão de que tinha mais nhoque do que havia de fato. O frango bem dourado. Bonito. 
Estava muito, muito gostoso. Bem temperado, carne macia, nhoque delícia. Tanto que resolvi me arriscar, deixando de lado meu controle de doces, e pedi um crème brûlée. Me bateu um arrependimento na primeira colherada: a casquinha era quase nada crocante, o creme tinha gosto amanteigado. Era feito com baunilha de verdade - lá estavam os pontinhos pretos. Ainda assim, comi tudo, esperando que aparecesse o café que pedi e não veio. Antes não tivesse pedido a sobremesa, pois foi uma curva descendente no almoço. Uma pena. 
De qualquer modo, a experiência foi mais positiva que negativa. Pelo preço (100 reais para uma pessoa), porém, esperava um almoço não suntuoso, mas correto do início ao fim. E ainda posso cometer a arrogância de dizer que meu crème brûlée é mais gostoso, imagine só. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Cassoulezinho

Fiz cassoulet. Ficou gostoso. Mas não teve tanto caldo nem casquinha dourada como o que comi em Aix-en-Provence, para mim uma das melhores experiências gastronômicas da vida. Tudo bem, o lugar não podia ser mais especial, mesmo com uma chuvinha fria que caía sobre as ruas históricas da cidade (onde também provei o inesquecível calisson).
Quando a caçarola de ferro fumegante chegou à mesa, e sob aquela camada dourada de pão descobri carnes e feijão quente, minha alma se viu imediatamente aquecida, reconfortada, feliz de estar ali após caminhar com os pés encharcados (tinha conseguido comprar um impermeável, mas não tinha trocado os sapatos) debaixo de uma chuva fina e imprevista.
Aqui em casa, não tinha as caçarolas de ferro para servir. Também não tinha a manha de como dourar a farinha. Finalizei as camadas com as carnes, o que deu ao prato um aspecto mais rústico. Como disse, ficou gostoso. No entanto, o melhor foi, a cada parte do preparo, ir me lembrando daquele dia chuvoso na Provence, um lugar aonde talvez não vá mais, mas que nunca sairá da minha memória enquanto memória houver.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Donburi de arroz integral com frango de padaria e tempurá de cenoura e couve

Nunca um frango de padaria rendeu tanto - já foi almoço, depois jantar, hoje almoço de novo. Nunca da mesma forma, é claro.
Hoje foi a vez de transformá-lo em donburi, o arroz com carne na tigela. Não tinha arroz branco (ainda bem, porque voltei pro VP, cheia de fé), então usei um multicereais; no lugar do ovo, fiz um tempurá de cenoura, cebola e couve (que também rendeu muito esses dias - de torta de ricota, passando por ramen até chegar ao donburi). O frango não foi empanado, o que quer dizer gordura de menos, mas fiz um pouquinho de molho agridoce com shoyu, molho inglês, açúcar mascavo, alho e gengibre.
Ficou uma gostosura, e o marido elogiou meu atavismo culinário oriental. 

domingo, 25 de novembro de 2018

Um ramen abrasileirado

O ramen está na moda, especialmente em SP. Eu ainda não fui a nenhuma casa de lamen ou ramen por lá, mas acompanho nas redes sociais os amigos que têm postado sobre suas visitas. 
Outro dia, o marido comprou uns miojinhos, para "caso de necessidade" (quando não quero fazer jantar). Aí comentei com ele que poderíamos fazer um ramen de verdade em vez de miojo puro e simples. Uma boa pedida para a noite, e nada tão complicado se tivermos os ingredientes mais à mão (um caldo pronto, umas fatias de carne, um pouco de verdura). 
Foi o que aconteceu hoje. Tinha feito há mais de um mês um caldo de legumes com salsão, cenoura, cebola, cravo, louro etc.; também tinha couve, gengibre fresco e frango pronto (daqueles de televisão de cachorro, ótimo). Era só cozinhar uns ovos (que têm que ficar um pouco mais moles, é verdade) e fazer uma montagem bonitinha, com direito a talos de cebolinha por cima. 
Ficou uma delícia, bem temperado, substancioso mas também fresco, graças ao gengibre. Já integra a lista de "pratos a repetir". 

Paellando

Não me lembro exatamente de quando foi a primeira vez que comi paella na vida. Mas me lembro do coup de foudre que sofri ao assistir a Carmen, de Carlos Saura, em uma sessão de cinema na semana cultural do colégio. Não conhecia Saura, sabia de que tratava a história por ter lido um livro da coleção Vaga-Lume, que mencionava a ópera de Bizet. Daí não só a paixão fugidia dos personagens, mas também tacones, e palmas, e cantes, tudo de forma tão perfeita e concatenada: fiquei imediata e irremediavelmente apaixonada pela cultura flamenca/espanhola. A paella, na verdade, veio na esteira do encanto com a dança, a língua, a literatura. Depois fui descobrindo outros aspectos culturais e gastronômicos que me encantam, mas primeiro, definitivamente, veio o flamenco. 
Até fiz aulas de flamenco, bem mais tarde, cerca de um ano e meio, com direito a apresentação de final de ano. Mas entre a dança e a cozinha, sem dúvida, a segunda é onde me saio melhor - ainda que o caráter democrático do flamenco, que acolhe todos os corpos, e o sentimento de fazer parte do bando sejam gratificantes em si. Mesmo não sendo uma boa bailaora, que felicidade era estar ali com todas e comigo mesma!
Quanto à paella, como já postei aqui, uma vez Claudia e Helio foram prepará-la em minha casa. Ficou bem boa, mas talvez um pouco forte para meu paladar ainda pouco treinado. 
Depois experimentei a do restaurante Paellas Pepe, no Ipiranga, aonde fui uma vez com Adriana e Miriam, que conheci no Atacama, e com minha amiga Luciane. Aliás, o que tínhamos as quatro em comum para escolher esse lugar para o encontro? O flamenco. Além do tablao, o Paellas Pepe oferece o espetáculo da paella sendo preparada ao lado das mesas, numa paellera enorme, que serve a todos os presentes. Foi do site do restaurante que retirei a receita que usamos na casa de Cris. 
No nosso almoço do curry tailandês, Cris propôs que fizéssemos uma paella na sua casa. Ela compraria os ingredientes para eu cozinhar. Avisei logo que só tinha comido paella, nunca preparado. Mesmo assim, ela resolveu arriscar. Enviei a receita do Pepe, e ela foi atrás dos ingredientes e temperos. 
Quando chegamos lá, o mise-en-place mais bonito de todos os tempos me aguardava, distribuídos numa bancada típica de programa culinário de TV. Vesti o avental, dei uma revisada na receita e botei a mão na massa. 
Não é que saiu bem boa? Até prefiro os frutos do mar assim limpinhos do que com casca, mesmo perdendo um pouco em sabor marítimo. Os convidados aprovaram, e eu também. Sorte de principiante? Ya no creo, porque traigo esas paisajes en mi alma. 

domingo, 18 de novembro de 2018

Almoço greco-turco-sírio-mediterrâneo

Domingo, né? Dia de comidinha diferente. Fomos de moussaka e salada de alface, tomate e muito manjericão e orégano da hortinha. Até procurei uma receita turca ou grega de sobremesa, mas acabei ficando com a sírio-libanesa mesmo, de knef, doce à base de aletria, ricota e nozes, uma delícia e bem fácil de fazer (e assim aproveitei o macarrão que tinha em casa).

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Mezzo indiana, mezzo tailandesa

Fiz propaganda do curry verde para amigos do pilates outro dia, e acabei convidando a galera para provar aqui em casa. 
Às vezes confundo um pouco as culinárias, e resolvi fazer uma sobremesa indiana para acompanhar o prato tailandês, que eu via como indiano, sabe Deus por quê - ou melhor, eu sei: por conta do curry. Quando ainda cria que o curry verde era indiano, fui atrás de uma salada que também acreditava indiana, mas que era tão tailandesa quanto o curry, a de mamão verde (por isso o filme vietnamita O cheiro do papaia verde, claro, seguindo o roteiro Sudeste Asiático). Para finalizar, lassi de manga - este sim, indiano, como o gajar ka halwa, doce de cenoura com leite. 
Portanto, tivemos um almoço quase indochinês. O halwa fez um sucesso inesperado, deixando para escanteio o pudim de leite, que despedaçou ao desenformar. Como a luz tinha acabado ainda de manhã e voltou por volta das 15h (e cancelar o almoço, nem pensar!), consegui preparar o lassi, que é batido no liquidificador, apenas quando os convidados já tinham ido embora, uma pena. Aliás, só foi possível manter o almoço porque o marido se ofereceu para pilar os temperos todos da masala. 
Só sei que nesse bololô todo Cris ficou contente com a comida asiática que não pôde comer em outro lugar, dadas as preferências alheias, João Pedro esteve feliz da vida observando as conversas e rindo o tempo todo do alto dos seus oito meses, Suely dividiu seus saberes ceramistas na comparação feliz com o tempo da natureza e o presente (além de me presentear com um pano palmilhado por tartarugas multicores, a coisa mais rica), Gleice e Wendel nos agraciaram com sua presença no meio de um dia corrido de trabalho e Júlio compartilhou projetos futuros, coisa que só fazemos em ambiente de aconchego. 
E depois seguimos todos nosso caminho, mais felizes, alimentados e acarinhados, de parte a parte, com mais paz e força. 

Cozinha e silêncio

Também na pós, o chef Tsuyoshi Murakami (não, não é parente do escritor) trouxe uma ideia que encontrou eco em meu coração (como o Troisgros com a comida de panela): a necessidade de silêncio na cozinha. 
Pra falar a verdade, minha cozinha sempre foi ruidosa, sempre teve a ver com reencontrar amigos e colocar conversa em dia, em torno de panelas e temperos. Já deixei muita gente passando fome enquanto preparava um prato e parava para participar das conversas.
Depois que casei, porém, e tive de reinventar a rotina culinária - porque agora tínhamos horário para comer, todo dia -, ficar conversando enquanto cozinho ficou menos divertido. Ou melhor, virou algo pouco prático. Cozinhar exige mesmo muita atenção, especialmente quando você cozinha sozinho e prepara muitas coisas ao mesmo tempo. Não à toa, qualquer distração gera pratos queimados, temperos esquecidos etc.
Por outro lado, conversar com os convivas é muito bom. Que ocasião melhor para conversar que em torno de um cafezinho com bolo? Nos casos em que vamos receber muita gente para almoçar ou jantar, agora procuro deixar quase tudo pronto, para poder desfrutar também da companhia dos convidados, embora ainda haja muito entra e sai da cozinha de minha parte.
De todo modo, ainda sonho com o dia em que terei uma cozinha com mais espaço para experimentações e equipamentos adequados, onde eu possa ficar quieta comigo e com meus ingredientes, totalmente presente naquilo que faço. Uma terapia para mim (já que somente no silêncio conseguimos entrar em contato com nossa essência), mas certamente uma garantia de qualidade da comida que irá à mesa. Todo mundo sai ganhando. 

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Marmitando em casa

Como já comentei em outro post, cozinho diariamente desde que resolvemos vir para a Bahia. Comida fresca, mais saudável e variada, mas também pelo menos duas horas gastas com as preparações. Imagine então se eu não tivesse comprado uma lava-louças - seriam ainda mais horas gastas com o trabalho doméstico e não remunerado. 
Bom, de qualquer modo, foi só recentemente que me caiu a ficha de que poderia fazer marmitas para nós. Cozinhar grande quantidade de arroz, feijão, grão-de-bico, lentilha, alguns pratos prontos, como quibe, carne de panela, escondidinho, porcionar e congelar ajudam imensamente quem almoça e trabalha em casa. Como logo receberemos visita, marmitar é ainda mais importante, já que a rotina da casa muda naturalmente e não dá para perder muito tempo na cozinha. 
Agora, além de gostar do objeto marmita (com certeza, por influência nipônica da obentô), me rendi a fazer a marmita nossa de cada dia no final de semana. Ao final, prefiro ter potes (que vão para a lava-louças) a panelas para lavar. 

domingo, 28 de outubro de 2018

Comida da resistência

Lá no Ser o que Soa, como aqui, falei um pouco sobre a comida como forma de resistir a tempos difíceis, como forma de nutrir e fortalecer corpo e espírito. Também falei sobre a necessidade de estar junto com os que não apoiam o terror e a intolerância de qualquer espécie. De ter por perto os amigos, e como tenho sentido vontade de abraçar os meus, de fazê-los sentir que, sim, estamos juntos, pro que der e vier.
Comecei esta semana o projeto de ter mais perto as pessoas que pensam como eu. Eu e Guga desopilamos o fígado na companhia de Cris e Júlio tomando uma cervejinha acompanhada de chilli de carne, guacamole, umas tortillas que viraram pastéis e a indefectível mousse de chocolate. Que leveza final!
Ontem também fiz um novo pão, de farinha branca, integral e de centeio e psyllium; estava com desejo de bolo inglês e também de usar as claras congeladas - daí fiz pudim de claras com calda de damascos e um pouco de suspiros.
Meu espírito, que estava pedindo um pouco de doçura, agradeceu.

Comida de panela

No curso da pós, o Claude Troisgros comentou sobre seu último empreendimento, o restaurante Chez Claude, que tem poucas mesas, organizadas em torno do fogão. Segundo ele, a ideia era retomar a proximidade entre quem cozinha e quem come - ali, os fregueses podem ir até a estação de preparo e até participar do processo. Os pratos saem direto do fogão para as mesas. É o que Troisgros chama de comida de panela, essa culinária voltada para muitas pessoas, mais associada com reuniões familiares. É o que Pollan chama, ao se referir aos cozidos, de comida dionisíaca, conquanto caótica, e Lévi-Strauss, de comida feminina, conquanto festiva e gregária.
Eu sempre gostei desse tipo de comida, mas nunca tinha pensado num nome para ela. Gosto da ideia de cozinhar para bastante gente, de cada um poder se servir como quer, em torno da mesa, enquanto todos conversam, falam de assuntos diversos, calam-se para comer e - suprema glória - elogiam a comida. Pois é, pode ser chamada comida de panela, esse utensílio por si agregador, onde cabem tantos temperos, ingredientes e segredos. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Pão integral com psyllium e amaranto e sorvete de pistache para dar energia em tempos tenebrosos

Estamos muito perto de um desastre político nacional. Além do voto, que mais podemos fazer?
Penso que não nos deixar abater, continuar resistindo ao horror, acreditar no que acreditamos, unir forças, proteger a quem amamos, de todas as formas. 
Nutrir a mente, o espírito e o corpo. Não descuidar de nada que seja importante - nosso trabalho, alimentação, nossos amigos, nossa rede de proteção. Precisamos estar fortes para o que quer que venha pela frente. 
Nestes tempos que prenunciam escuridão, tenho pensado muito no papel da alimentação como forma de resistência, de fortalecimento, de reconhecimento da cidadania. 
No dia de hoje, o sorvete de pistache foi para alegrar o espírito do marido; o pão integral com psyllium e amaranto, para nos dar energia e garra para o dia a dia. 
Porque seguimos, e somos privilegiados, mesmo com algumas dificuldades. Mas é preciso estar pronto para dar força a quem precisar. O presente é hoje, o futuro, não sabemos. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Quibe de quinoa é uma boa

No cardápio da marmita semanal, tinha pensado em fazer quibe. Só não achei o trigo no supermercado, e daí resolvi usar quinoa no lugar. Fácil de fazer, e ficou uma delícia.

Ingredientes:
500 g de carne moída
1 1/2 xícara (chá) de quinoa
1 cebola média picada
hortelã (usei desidratada)
canela em pó
cravo em pó
noz-moscada
pimenta-do-reino
sal a gosto

Modo de preparo:
Cozinhe a quinoa com um pouco de sal. Reserve. Em uma tigela, junte a carne moída, os temperos e a cebola; adicione a quinoa. Coloque tudo em um refratário levemente untado com azeite, apertando bem contra o fundo. Pincele com um pouco de azeite e leve ao forno preaquecido por cerca de 40 minutos. Sirva com tabule ou arroz sírio. 

Fermentação

Livro novo, leitura deliciosa, mil ideias.

sábado, 20 de outubro de 2018

Pizza jamón y morrón com pão sírio, azeite não filtrado e vinho bom

Às sextas, normalmente temos pizza. Não mais de caixinha, depois que comecei a fazer a massa, graças aos céus. Ontem, como fui fazer um procedimento médico chato e ficamos fora a tarde toda, preparei a pizza com pão sírio. Tinha ainda uns pimentões do ratatouille de outro dia, e resolvi copiar a pizza da Sete Pizzas, jamón y morrón, tipicamente argentina. Ficou ótima!
Ainda experimentamos um azeite não filtrado da Olitalia, bem interessante, e um vinho que, coincidentemente, eu e Guga escolhemos, tirando-o de diferentes prateleiras do supermercado - vinho leve, frutado, muito bom para acompanhar nossa pizzinha.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Curry verde de filé mignon

Uma das coisas mais gostosas que já comi na vida foi o curry verde de carne do restaurante Mestiço, em São Paulo. A apresentação não era linda, parecia um sopão verde com carne, mas o sabor era incrível. Durante um bom tempo, na minha ignorância gastronômica, achei que o curry verde era vendido como o curry comum, em pó. Após algumas pesquisas frustradas sobre onde comprar o produto, descobri que era um preparado de temperos feito na hora e tive um pouco de preguiça de executar, até porque faltavam ingredientes.
Outro dia, topei de novo com a receita, porque fui pesquisar um prato tailandês. Como tinha sobrado um pouco de filé mignon do jantar de aniversário de Guga, resolvi fazer hoje. Na verdade, o preparo é bem rápido, só uma masala apimentada que se mistura com o leite de coco, a carne, um pouco de caldo de galinha e açúcar mascavo. Fica uma delícia!
Segue a receita que serve duas pessoas, já com minhas adaptações (não tinha pimenta verde fresca, nem erva-doce, nem gengibre fresco, nem coentro, nem molho de ostra).

Ingredientes:
Pasta de curry verde
1 colher (sopa) pimenta verde moída
1/2 colher (chá) cúrcuma (açafrão da terra)
1/2 colher (sopa) erva-doce ou endro
1/2 colher (chá) gengibre em pó
1/2 colher (chá) cebola roxa picada
1/2 colher (chá) raspas de limão
1/2 colher (chá) salsinha (ou coentro)
1/2 colher (sopa) alho picado
1/2 colher (sopa) pimenta-do-reino
1/4 colher (chá) semente de coentro (não usei, porque não tinha)
1/4 colher (chá) semente de cominho

E mais:
400 g de filé mignon cortado em iscas
200 mL de leite de coco
1 colher (sopa) de açúcar mascavo
1/2 xícara (chá) de caldo de galinha ou legumes
raspas de limão
folhas de manjericão

Modo de fazer:
Processar todos os ingredientes da pasta de curry verde com um pouco do leite de coco. Reserve. Tempere as iscas de carne com sal e leve ao fogo para dourar.  Aqueça o leite de coco em uma frigideira grande ou wok. Acrescente ao leite de coco a pasta de curry, misturando bem, adicione a carne e deixe cozinhar  5-8 minutos. Ajunte o caldo de galinha e o açúcar mascavo e reduza um pouco o molho. Desligue, polvilhe as raspas de limão e as folhas de manjericão.
Sirva com arroz branco e legumes salteados.

Bolo floresta negra maomeno, petit fours delícia e docinhos de uva infalíveis

Inventei de fazer umas gordices pra continuar comemorando o aniversário do marido no final de semana, com a família. Fui testar o bolo floresta roxa da Raíza Costa, mas achei muito denso - prefiro a receita dele de Red Velvet com o chantili e as cerejas. Uma pena, porque tinha a maior expectativa com esse bolo (floresta negra) que Guga adora.
Em compensação, os petit fours que nunca tinha feito ficaram ótimos, receita que encontrei no caderno Paladar do Estadão. Os docinhos de uva, clássicos, ficaram um pouco moles para modelar, mas uma delícia sempre.

domingo, 7 de outubro de 2018

Eleições em época de horror

Hoje teremos o primeiro turno de um dos pleitos mais assustadores dos últimos tempos, porque um dos favoritos é epítome do horror, do retrocesso, da intolerância, e estamos à beira do precipício até o último momento - e espero que não caiamos nele. Do outro lado, o partido que não consegue fazer uma avaliação crítica de si, se eleito, corre o risco de não conseguir governar, e as trevas também se avizinham por ali, embora talvez não de forma tão dramática quanto no primeiro caso.
Ao longo da campanha política, tenho visto de tudo - amigos sendo ameaçados publicamente por serem de esquerda, amigos mais distantes destilando sua amargura contra a esquerda, gente tentando justificar o injustificável: votar em um homem bizarro, que mal consegue articular as palavras e ideias, e logo começa a gritar como plataforma eleitoral, bradando contra mulheres, homossexuais, índios e negros. Quem, em sã consciência, pode considerar que essa pessoa seja a melhor opção para o governo de um país? Certamente, quem está tomado pelo mesmo ódio contra o restante da humanidade, que inclui mulheres, homossexuais, índios e negros. Aliás, como pode uma mulher votar nele? Somente aquelas que não conseguiram ainda se despir da imagem retrógrada de mulher construída por uma sociedade machista, as que dão graças por terem um trabalho, mesmo ganhando menos que os homens, por terem um homem, mesmo que as diminua de alguma forma, por terem uma família, mesmo infeliz. Incompreensível, todavia. Injustificável. Daí se tem ideia do tamanho do abismo social em que vivemos.
Hoje tenho medo, vontade de chorar. Tempos sombrios se avizinham. Já temos experimentado a intolerância e a loucura nos discursos, que sejamos livrados de um mal maior. Hoje tudo me faz lembrar Drummond. Que tenhamos ainda direito à beleza, à arte, à educação, à fraternidade.

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista pela janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

Cabeceira

  • "Arte moderna", de Giulio Carlo Argan
  • "Geografia da fome", de Josué de Castro
  • "A metamorfose", de Franz Kafka
  • "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez
  • "Orfeu extático na metrópole", de Nicolau Sevcenko
  • "Fica comigo esta noite", de Inês Pedrosa
  • "Felicidade clandestina", de Clarice Lispector
  • "O estrangeiro", de Albert Camus
  • "Campo geral", de João Guimarães Rosa
  • "Por quem os sinos dobram", de Ernest Hemingway
  • "Sagarana", de João Guimarães Rosa
  • "A paixão segundo G.H.", de Clarice Lispector
  • "A outra volta do parafuso", de Henry James
  • "O processo", de Franz Kafka
  • "Esperando Godot", de Samuel Beckett
  • "A sagração da primavera", de Alejo Carpentier
  • "Amphytrion", de Ignácio Padilla

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